A fé e a prudência em tempos de coronavírus

“Nesse porto, o centurião encontrou um navio de Alexandria, que estava de partida para a Itália, e nos fez embarcar nele. Navegando vagarosamente muitos dias, foi com dificuldade que chegamos às imediações de Cnido. Não nos sendo permitido prosseguir, por causa do vento contrário, navegamos ao abrigo de Creta, na altura de Salmona.
Costeando a ilha com dificuldade, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laseia. Depois de muito tempo, tendo-se tornado a navegação perigosa, e já passado o tempo do Dia do Jejum, Paulo os aconselhou, dizendo: — Senhores, vejo que a viagem vai ser trabalhosa, com dano e muito prejuízo, não só da carga e do navio, mas também da nossa vida. Porém o centurião dava mais crédito ao piloto e ao mestre do navio do que ao que Paulo dizia.”

Você deve conhecer o capítulo 27 de Atos. Ele é dos mais incríveis e vívidos de todo o Novo Testamento. Lucas relatou com um nível de detalhe impressionante a viagem do prisioneiro Paulo até Roma. Antes, quero somente relembrar alguns detalhes que compõem o cenário desse capítulo. Essa história começa no capítulo 20. Paulo está em Mileto e convoca uma reunião com diversos líderes (At. 20.17) e comunica sua decisão de ir a Jerusalém. Vários deles tentam demover Paulo da ideia. Já mais próximo de Jerusalém, em Cesareia, novamente tentam demover Paulo da viagem à Jerusalém e ele apresenta sua fé veemente: “O que estão fazendo, ao chorar assim e partir o meu coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” – At. 21.13. Note a convicção de Paulo quanto a “morrer por Jesus”. A partir daí, ele é preso (injustamente) em Jerusalém e apela a César. No início do capítulo 27, Paulo é enviado a Roma, sob a custódia do centurião Júlio. Um homem da guerra, pouco afeito a temores, corajoso. Depois de alguns contratempos na viagem, a embarcação está em Bons Portos e tudo indica que o mar não está favorável para a navegação. Então, aparece Paulo, o prudente, que aconselha ao centurião a ficar ali por mais alguns dias, devido a possibilidade de danos materiais e físicos se a decisão fosse contrária.  O texto diz que Júlio prefere ouvir o mestre do navio e o seu piloto, do que seguir o conselho de Paulo.

Quem é o homem da fé nesse texto? Júlio, os comandantes do navio ou Paulo? A resposta é óbvia: Paulo é o homem que conhece as promessas e o poder de Deus. Paulo, ao longo de sua carreira cristã, já viu e viveu muita coisa, inclusive milagres e livramentos. Paulo, como lemos, não tem medo de enfrentar a morte por Jesus. O detalhe é que nada disso retira o fato de que o homem da fé também é o único prudente na cena. O centurião, o mestre e o piloto são homens do mar, são profissionais, são valentes e não se deixaram impedir por um prisioneiro e seus receios. A única coisa que parece que eles não têm é fé. Quem decide ser prudente? O homem da fé. Quem decide ser ousado e enfrentar os ventos contrários e as ciladas do mar? Os homens valentes e experimentados na vida marítima.

Isso precisa nos falar alguma coisa. Ter as devidas precauções, cuidados e seguir as orientações não se trata de falta de fé, mas da prudência necessária aos homens de fé em tempos ou situações de crise evidente. A dinâmica do Espírito que nos dá ousadia para viver e morrer por Jesus é aliada da sabedoria bíblica, da prudência e da convicção que devemos ter cuidado de nós mesmos (I Tm. 4.16). É hora de abençoarmos as pessoas com o cuidado necessário e o compromisso de cidadania para o bem de nossas comunidades locais. Sem alarmismo ou medo, mas com fé e prudência. É hora de testemunharmos da nossa fé em Cristo por meio da coerência, da boa vontade e da celebração da vida, protegendo nossos idosos, as crianças e os demais grupos de risco. O coronavírus vai passar, assim esperamos. Os tempos ruins também iriam passar e eles poderiam viajar com mais tranquilidade para Roma. A melhor decisão era ficar em Bons Portos, mas eles decidiram partir e, por conta de Paulo, Deus entrou com providência. Por fim, perceba que Deus não se decepcionou com a prudência de Paulo, mas ele viu a bênção e o milagre da salvação em meio ao mar bravio. Ele não tentou a Deus, partindo de peito aberto para uma situação de alto risco, mas ele foi socorrido diante da crise.

Tenhamos fé em Deus, que a desesperança não nos contamine. Mas, também, sejamos prudentes. Afinal homens de fé também são homens prudentes. Sejamos homens e mulheres de Deus nesses tempos difíceis em que passa o nosso mundo. Que a fé não seja desculpa para não exercermos a prudência. E, também, que a prudência não seja revestida de medo. Que a sua fé e a sua prudência glorifiquem a Deus durante essa crise de saúde que estamos enfrentando.

 

 

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